Sociedades em movimento

Acostumamos tanto o ouvido a alguns termos, como 'movimentos sociais', que perdemos o seu significado original. Ao ouví-lo pensamos em instituições como sindicatos, associações, pastorais, mas raramente nos ocorre o sentido de sociedades em movimento.

Aí nos chega 2011, assim de mansinho, e o mundo começa a se movimentar. Ninguém previu - nem o mercado! - ninguém organizou, nenhuma ideologia foi invocada. Apenas o movimento. Do Egito a Wisconsin as sociedades se movimentam, e como ondas a se propagar, chegam a Nova York, estremessem a China, ameaçam a Inglaterra, costuram diplomacias entre EUA e Russia, amolecem o coração do monarca saudita.

E o que tem em comum os líbios rebelados, os trabalhadores do Wisconsin e os universitários de Nova York? Talvez apenas a desesperança e a pobreza - cada um na proporção da desiguldade do seu país -, o desejo de liberdade e dignidade. Apenas...

Impossível prever o que virá, se a onda quebra na praia ou arrebenta os diques, mas que as Casas Grandes do mundo todo tremem, isso tremem.

Especificamente sobre o sindicaslismo, chama atenção que o movimento em sua defesa tenha começado nos EUA, de onde não se esperava mais que o tiro de misericórdia contra as organizações trabalhistas. Ou talvez, por isso mesmo tenha começado lá.

E por aqui? Será que a onda chega? Uma marolinha, pelo menos?

Praça da Estação - BH - Campanha eleitoral 2010
Entre as críticas repetidas pela esquerda contra o governo Lula, está a cooptação dos movimentos sociais, especialmente sindicatos e Centrais. Cooptados ou não, o fato é que muitos líderes sindicais ocuparam cargos importantes no governo.
Mas... parece que o romance acabou. É a impressão que se tem observando esses primeiros dias do governo Dilma e a composição dos cargos: sobraram poucos para sindicalistas e líderes de movimentos sociais.

Além disso, mal ela tomou posse, o mundo entrou em convulsão, as dúvidas sobre a economia mundial aumentaram e a inflação, nossa velha inimiga esquecida, apareceu para o jantar. Veio o primeiro corte de R$50 bilhões no orçamento, a segurada no salário mínimo e os dois aumentos da Selic. Barulho suficiente para acordar sindicatos e centrais que andaram dormindo em berço esplêndido durante o governo Lula. Suficiente também para colocar todos de volta aos seus devidos lugares, ou seja, em lados opostos das mesas de negociação.

Nem precisa ser um militante de esquerda muito aguerrido para entender que essa "ruptura" é boa. Qualquer tipo de cooptação de movimentos sociais por governos (de esquerda, meia esquerda ou de direita), seja pela força, "sedução" de lideranças, participação no governo ou pela acomodação em tempos de vacas gordas, empobrece o espaço político das sociedades. E é nesse espaço, pelo embate entre diferentes grupos e governos, que nascem e são defendidos os projetos que atendem a maioria da sociedade. Pois os gabinetes, sabemos, são reservados ao lobby de interesses muito particulares.

Talvez essas primeiras ações antipáticas do governo Dilma, mais algum contágio dos movimentos mundiais, sirvam para sacudir nossos sindicatos, centrais, estudantes e afins.
Afinal, nossas vacas não estão assim tão gordas para que nos acomodemos no colo de qualquer governo...



Links de referência

“A rua árabe é hoje a vanguarda de todo o mundo” - Pepe Escobar
http://tinyurl.com/6fl9acb

Libia coloca a China en el centro de la atención mundial - M. K. Bhadrakumar
http://tinyurl.com/46jat62

Além dos sindicatos, além de Wisconsin - Micah Uetricht
http://tinyurl.com/46ypvc5

Madison: uma chance de recomeço para os EUA - Richard Feldman e Sharons Howell
http://tinyurl.com/4rs8na8

"Fomos vítimas de um golpe de Estado financeiro" - Michael Moore
http://tinyurl.com/4k8jmu5

Luiz Werneck Vianna diz que acabou monopólio político de Lula - Uirá Machado
http://tinyurl.com/64l35jq

The Economist prega guerra contra funcionários públicos - Bernard Cassen
http://tinyurl.com/49f7tqq

Depois das reformas neoliberais - Brunna Rosa
http://tinyurl.com/46uygyu

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