Que ódio é esse? - sobre texto de Luis Nassif

Não me agrada voltar ao tema do ódio. Mas, navegando pelo mundo da disputa eleitoral nos últimos dias, não encontrei muito mais que isso. Não falo do acirramento normal - compreensivelmente exagerado algumas vezes - que envolve as disputas. Também não é ódio por um ou outro candidato ou partido apenas. Falo do ódio observado naqueles que sequer estão envolvidos no processo eleitoral. É um ódio que está no ar, parece físico, palpável. Tem cheiro...
Que ódio é esse?

No fim de semana participei de um ato na rua, divulgando a candidata que apóio. Nada extravagante, o de sempre em qualquer campanha. Nem havia muita gente, a cidade vazia por conta do feriado. Mas impressionou-me o número de pessoas que passavam e simplesmente destilavam ódio contra os militantes. Xingamentos, coisas como apoiadores de assassinos. No limite do absurdo, ouvi crianças xingando. Pais diminuindo a velocidade do carro para que o filho abrisse a janela e insultasse. E partia satisfeito, orgulhoso, com meio sorriso na cara, o pai. "Enrolei minha bandeira" e fui para casa.
Que ódio é esse, que faz escola?
O que ouvem e vivenciam esses pequenos "atrás de portas fechadas"?



"Pelas gretas das janelas,
Rua histórica em Colonia de Sacramento
Uruguai
pelas frestas das esteiras,
agudas setas atiram
a inveja e a maledicência.
Palavras conjeturadas
oscilam no ar de surpresas,
como peludas aranhas
na gosma das teias densas,
rápidas e envenenadas,
engenhosas, sorrateiras.
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas [...]"

(Romanceiro da Inconfidência, Cecília Meireles.)

Texto de Luis Nassif, A psicologia de massa do fascismo à brasileira.
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-psicologia-de-massa-do-fascismo-a-brasileira
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