O ódio

O ódio desperta em mim mais interesse do que o amor. Interesse, não simpatia.

Muito se fala sobre as montanhas que o amor move. E o ódio? Quantas montanhas já moveu? Basta ver as guerras. Quantas vezes o mundo foi reconfigurado por elas? E por mais santas que se pretendam algumas, não são feitas por amor. Ainda que não seja o ódio que as declara - na maioria das vezes é o interesse -  é ele que as alimenta, arregimenta. Soldados não matam por poços de petróleo, matam por ódio e medo.

Mas pouco se fala sobre essa nossa paixão tão violenta. Milhões de linhas foram escritas para explicar, louvar, cantar o amor. Já sobre o ódio... Fiz, nesse extato momento, 16/09 - 13:53, duas pesquisas no google. Uma com a palavra "amor", outra com "ódio". Resultados: 136 milhões de referências para amor e 25 milhões para ódio. Isso significa que amamos mais do que odiamos? É daí que vem meu interesse. Não sei a resposta. Não encontrei.

E a origem do ódio? Se alguém mata o teu sonho e vai ao cinema e você o odeia por isso... é justo.
Mas existem ódios cuja origem nos escapa, imotivados. Os ódios coletivos, por exemplo. Como explicar o ódio entre povos? Entre famílias, classes sociais, categorias profissionais? Pode-se até encontrar um motivo inicial, mas logo ele se perde. Perdido o motivo, o que continua alimentando o ódio?

Bernard Henri Lévy se pergunta, em "O Século de Sartre", de que natureza seria o ódio absoluto que muitos franceses dedicaram a Sartre e a Simone de Beauvoir, a ponto de jogar bombas incendiárias em suas casas. Os dois o despertaram? Por que? O que fizeram para despertar a ira de tantos?

Esse mesmo Sartre dizia que o primeiro passo para acabar com o mal é admitir que ele existe, identificá-lo. Só assim saberemos oque combater. Mas para admitir o mal, é preciso aceitar que ele está em nós - ainda que potencialmente, latente -, aceitar que ele não é uma entidade autônoma. Para não admiti-lo como parte de nós, como humano, criamos os demônios e a eles atribuímos o nosso lado feio, o mal que nos compõe. Assim, não temos de assumi-lo. Mas o que fazer quando não acreditamos em demônios? Nesse caso, para quem, para que entidade misteriosa vamos transferir o nosso 'feio' para odiá-lo em paz? Para o "outro"?, o adversário, o vizinho, o estrangeiro, o diferente de nós? É uma resposta possível.

Grafite
Rua Galvão Bueno - Liberdade - SP
Joana acha que odiamos por falta de amor. Carência. Nosso ódio é nossa vingança contra o desamor. Mas Joana é ingênua...

"E eu vou tratá-la bem
Prá que ela não tenha medo
Quando começar a conhecer
Os meus segredos..."



Comentários

Postagens mais visitadas